quarta-feira, 16 de julho de 2008

Dois na lona

Um colega do mestrado me perguntou certa vez se haviam filmes de luta livre no Brasil. Todo mundo sabe que aqui no México a luta livre é um esporte extremamente popular, uma verdadeira e onipresente paixão nacional. Na televisão existem programas de auditório cujos apresentadores são lutadores mascarados, nas bancas de jornal pipocam revistas especializadas de luta livre, nas ruas as crianças se fantasiam com as máscaras de seus heróis do ringue, há bonecos, histórias em quadrinhos e promoções de sanduiches do KFC que exploram de maneira intensa essa iconografia. Ou seja, a máscara, o ato de esconder o rosto é uma obesessão de longa tradição por aqui e na linguagem da luta livre ela assume peculiares contornos.

A conjugação máscara - luta livre pode explicar uma série de coisas, mas não explica e muito menos responde a pergunta do meu amigo. Eu lhe respondi que o único filme brasileiro que eu conheço que poderia se aproximar mais ou menos do termo "filme de luta livre" (sem com isso deixar de assumir fortes doses de forçassão de barra) seria o Dois na lona (Dir: Carlos Alberto de Souza Barros, Brasil, 1968). Se a luta livre não explodiu no cinema brasileiro da mesma forma que estourou no cinema mexicano, a televisão brasileira nas décadas de 60 e 70 sim, conheceu essa febre. E foi no rastro desse êxito televisivo que surgiu o projeto de Dois na lona.

Juntando dois astros populares da tv, um comediante: Renato Aragão e um lutador de Telecatch ítalo-argentino: Ted Boy Marino , o filme busca uma fórmula leve que utiliza humor ameno -infantil misturado com cenas de pancadaria , algo que Didi Mocó e seus tres futuros amigos explorariam eficientemente anos mais tarde. As inesquecíveis cenas de briga dos Trapalhões já aparecem aqui em seu estado embrionário e sinalizam nitidamente a diferença existente entre Dois na lona ( um filme infantil que se serve do Catch televisivo) e os filmes do Santo, o mascarado de prata, do Blue Demon, do Mil Máscaras e de outros lutadores mexicanos (que utilizam a luta livre e sua popularidade icônica para revisitar e explorar diveros gêneros cinematográficos).

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