domingo, 27 de julho de 2008

A viagem

Arrumar mala sempre é um troço chato. Eu evito fazer isso ao máximo, por isso na maioria das vezes deixo para enfiar as coisas na mala super em cima da hora. É o caso de hoje. Às 8:30 da noite sairei daqui da Casa de Huéspedes rumo à rodoviaria onde pegarei o ônibus rumo à Cidade do México, e só agora que eu começei a separar meus trapos. Trata-se de um mal necessário. Viajar é uma das melhores coisas da vida, viajar é maravilhoso, pena que para viajar é preciso arrumar as malas. Se desse para viajar sem arrumar as malas, viajar seria melhor ainda.

Estou contente porque vou visitar a Cidade do México pela terceira vez, sendo que dessa vez vou ficar mais tempo (15 dias). Mas, o que me deixa mais contente ainda é que no dia 4 de agosto eu vou me encontrar com a Thata lá e já falta bem pouquinho para esse dia. O roteiro da Cidade do México já está quase fechado, falta agora começar o das outras cidades que vamos conhecer (Puebla, Oaxaca, as praias de Oaxaca, etc...) O que não falta são lugares fantásticos para se conhecer nesse país.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Cavadores musicais

Em 2003, quando estive viajando pelo Chile, fiquei surpreso em saber que um grupo brasileiro do qual eu nunca tinha ouvido falar era o que mais se ouvia no país, era a absoluta sensação do momento. Tocava nas rádios sem parar, o grupo toda hora estava na televisão, aparecia em programas de auditório, em programas de entrevistas, em revistas de fofoca, já tinham virado bonequinhos e conquistado diversos públicos, sobretudo o infantil.

O grupo em questão se chamava Axé Bahia e na verdade de baiano ele não tinha nada. A banda era composta por dançarinos e dançarinas do interior de São Paulo que foram para o Chile com o objetivo de encher o bolso de bufunfa. Depois eu descobri que eu nãoera o único brasileiro que desconhecia o Axé Bahia. O grupo nunca tinha tocado no Brasil. Ele foi criado, construido e armado para o mercado chileno. Usando todo o arsenal simbólico, a poesia das letras de duplo sentido, a iconografia e as coreografias sofisticadas difundidas pelo Axé, o grupo paulista-baiano-chileno foi como um acarajé cozinhado na Patagônia. Um produto ¨nacional¨ produzido e consumido no exterior.

Trata-se de uma lógica bastante razoável: um produto que dá dinheiro em um país também pode dar em outro, com a vantagem de que nesse outro país o produto é escasso, raro e exótico. Não há concorrência... O sucesso é garantido. A garantia soy yo.

Março deste ano, Guadalajara, México. Estava eu com o Alan no Festival do dia da música. Tinham sido montados ao longo da Avenida Chapultepec vários palcos, para cada palco estavam programadas 12 atrações musicais. A gente tinha marcado com um pessoal às 10 num bar e era umas 8. Como tava cedo a gente decidiu dar um rolé e ver o que estava rolando em cada palco. A gente viu o primeiro palco, o segundo, tudo muito paradão. Chegando no terceiro, a coisa estava movimentada, porém, o público não dançava. Era uma banda de Axé.

O público assistia tudo aquilo com uma atenção tremenda. Parecia que estavam vendo uma coisa do outro mundo. Eu, por outras razões, também estava começando a achar o mesmo. O vocalista, claro, era brasileiro. O dançarino negão e a mulata também. Mas, as três outras dançarinas e os músicos eram mais mexicanos que Cantinflas. As mexicanas rebolantes eram gostosas e tinham aprendido bem a dançar na boquinha da garrafa. Deu para ver que elas fizeram um treinamento intensivo. Tudo bem que a mulata brasileira era melhor, mas as suas alunas estavam dando conta do recado. Mas, os músicos... Nunca tinha ouvido um Axé ser tão mal tocado em toda a minha vida. Parecia que os músicos estavam brigando entre si. Em um outro momento parecia um campeonato, um músico querendo chegar primeiro que o outro.

Terminado o show, a minha curiosidade estava falando alto. Fui para perto do palco e vi que os que mais atrairam admiradores foram o negão e a mulata. Havia uma fila enorme de adolescentes para tirar foto ao lado do negão e uma multidão de marmanjos pegando autógrafos da mulata. Após esse alvoroço, fui falar com o vocalista. Ele me disse que era do interior paulista, que estava morando há sete anos em Guadalajara e há 12 no México. Me disse que quando chegou no país fazia parte de uma dupla sertaneja, depois fundou um conjunto de forró, de lambada (mesmo já fora de moda) e agora está com essa banda de Axé. Fiquei sabendo que no final dos anos 80, começo dos 90 (época de ouro da lambada), ela foi proibida no México. Vai ver, ela foi liberada quando a moda acabou. Pedi a ele um cartão do grupo, ele me deu e foi embora. Quando fui ler o cartaão vi que o grupo se chamava Buzeta do Brasil (buceta com Z).

Mais um artigo de exportação.

A cavaçao nao só é universal, como também, musical.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Mais Artaud

Continuo imerso nas leituras de e sobre Artaud. Estou lendo tudo que encontro relacionado ao genial e único dramaturgo francês. Ele é um dos elementos chave da minha dissertação de mestrado pois eu o posiciono como um dos principais elos, como uma das principais pontes entre Glauber e Jodorowsky. De Artaud me interessa os seus textos do período surrealista (1924-1925): a sua ação na Central de Pesquisas Surrealistas, O pesa nervos , o manifesto de 27 de janeiro de 1925 ( postado por mim há uns dias atrás) e todos os documentos presentes em Carta aos poderes.

Me interessa a fase de divergências e a sua posterior expulsão do surrealismo (1926-1928). André Breton se achando o dono da marca ¨surrealismo¨ se achou no direito de expulsar algumas pessoas do grupo. Pessoas que construiram e fizeram o surrealismo com ele. Mas, era ele que decidia quem ia embora e quem ficava no movimento. Era ele que cortava as cabeças e tirava as pessoas da lista. Muito autoritário e arrogante esse Breton. Sou muito mais Artaud.

Por fim, a sua fase fundamental: (1935-1936) que comporta a escrita de O teatro e seu duplo e a sua reveladora e fantástica viagem ao México. Essa é a fase central para a minha pesquisa. Indo no embalo, abaixo segue trechos da nota de Andralis e Pellegrini.




Nota de Juan Andralis e Mario Pellegrini para o livro ARTAUD, Antonin. Carta a los poderes. Buenos Aires: Editorial Argonauta, 2003, pp. 47-49.


En 1920, a la edad de 24 años, Antonin Artaud llega a París con la intención de consagrarse al teatro. Se vincula entonces con Charles Dullin que acaba de fundar el ¨Théâtre de l Atelier¨ , participando como actor, decorador y realizador, al mismo tiempo que se interesa en las actividades del grupo de poetas nucleados en torno de la revista ¨Littérature¨ - germen del futuro grupo surrealista - , donde el insidioso propósito del título de la publicación encubre, como antifrase, un operativo de gran envergadura lanzado sobre el lenguaje. En 1923, en el atelier de André Masson, Artaud entra en contacto con Robert Desnos, Michel Leiris y Joan Miró, quienes poco tiempo más tarde lo presentan a André Breton y al grupo surrealista que acaba de organizarse alrededor del Primer Manifiesto. Es la época de la aparición de ¨La Revolución Surrealista¨, órgano del movimiento. Adhiere inmediatamente y se convierte en uno de los apasionados portavoces de la ideología: ¨ A pesar del poco tiempo transcurrido desde que Artaud se había unido a nosotros, nadie, como él, supo entregarse tan espontáneamente al servicio de la causa surrealista... Lo poseía una especie de furor que no perdonaba, por así decir, ninguna de las instituciones humanas, pero que podía, ocasionalmente, resolverse en un estallido de risa por el que pasaba todo el desafío de la juventud. No sorprende que este furor, por el enorme poder de contagio que poseía, haya influido profundamente en la trayectoria surrealista... (André Breton, ¨Entretiens¨, Gallimard, 1952).

A comienzos del año 1925, el grupo funda una Central de Investigaciones Surrealistas, cuyo objetivo inicial es ¨recoger todos los datos posibles en lo que concierne a las formas que puede adoptar la actividad inconsciente del espíritu¨. Una proclama, conocida como ¨ Declaración del 27 de enero de 1925¨, que incluimos en este volumen, aparece firmada por todos los miembros del grupo , su redacción, en realidad, se debe íntegramente a Artaud. Poco después, éste asume con plenos poderes la dirección de la Central de Investigaciones Surrealistas y se esfuerza por convertirla en un centro de ¨reordenamiento¨ de la vida.

¨El surrealismo, más que creencias, registra un cierto orden de repulsiones. Es ante todo un estado de espíritu. No proporciona recetas¨. El grupo le confía entonces la dirección del no 3 de ¨La Revolución Surrealista¨, que hasta ese momento estaba a cargo de Péret y Naville. La revista aparece con una portada desafiante:
¨ 1925 – FIN DE LA ERA CRISTIANA¨.

Artaud toma la iniciativa de redactar la mayor parte de los textos que se publican en ese número, dando un giro inesperado al tono de la publicación. ¨Aquí el lenguaje se desprende de todo lo que podía darle un carácter ornamental, se sustrae a la ¨ola de los sueños¨ de la que habló Aragón, y surge templado y resplandeciente, pero resplandeciente a la manera de un arma...¨ (Breton, op.cit).

Sus textos, impregnados de un abierto ardor insurreccional, están redactados en forma de cartas abiertas y dirigidos contra aquellas instituciones o sus representantes frente a los cuales el surrealismo comienza a organizar ya su clamor de protesta. De allí que hayamos creído justificado agruparlos bajo el título general ¨Carta a los Poderes¨.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Últimos filmes vistos

Adorei o filme do Wong Kar Wai, realmente muito bom, indescritível. E como eu vi na véspera do meu aniversário, que foi ontem, o filme se transformou em um autêntico presente. Foi por isso, aliás, que eu não postei nada ontem. O dia foi muito cheio. Primeiro acordei às 8 horas da manhã com a minha mãe me chamando pelo SKYPE. Depois falei com a minha vó, que estava do lado da minha mãe, claro. Falei com a minha tia e por último com a Thata.

Terminadas as conversas, me encontrei com uns amigos e rumamos para o El Negro encher a pança e tomar umas chelas. Recomendo o restaurante, muito bom.

Hoje, revi o Cronemberg e confirmei a minha adoção ao filme.

sábado, 19 de julho de 2008

Noches Púrpuras


Vou aproveitar que o Cineforo está fazendo uma retrospectiva do ¨melhor¨ que foi exibido no circuito cinematogáfico de Guadalajara nesse primeiro semestre de 2008, para ver o My Blueberry Niggths / Noches Púrpuras do Wong Kar Wai, que eu perdi quando entrou em cartaz. Nessa retrospectiva também vai passar o último do Cronenberg, Eastern Promises / Promesas Peligrosas ( esse eu vi, esse eu não poderia perder) e o mexicano Párpados Azules , que é bastante interessante.

Avassaladoras ou Irresistibles?

No post abaixo eu tinha dito que o título espanhol de Avassaladoras era Devoradoras de Hombres. Está errado, o verdadeiro nome desse filme em espanhol é: Irresistibles. Apesar de não ser verdadeiro, eu acho o título que eu tinha dado primeiro melhor. Agora, da onde que eu tirei esse título? Sei lá, eu devo estar vendo muito filme mexicano da Época de oro.

Nota sobre o circuito exibidor mexicano

No Rio eu morava praticamente ao lado do Estação Botafogo, aqui em Guadalajara estou morando agora há poucos minutos do Cineforo , o único ¨cinema de arte¨ ou cinema de repertório ¨alternativo¨ da cidade. Fora esse cinema, que pertence à Universidade de Guadalajara, o circuito exibidor da cidade é praticamente dominado pela rede Cinépolis. Trata-se de um quase monopólio. Um amigo meu me disse que isso acontece mais aqui em Guadalajara ( a segunda maior metrópole do país) , em Monterrey ( a terceira) e em algumas outras capitais e estados improtantes. Só na Cidade do México, segundo ele, que a poderosa empresa atuaria sob o peso da concorrência, entre elas, o Cinemark. Parece que os propietários da rede Cinépolis, que também tem salas espalhadas pela Guatemala, Costa Rica, El Salvador, Panamá e Colombia, são mexicanos. Mas isso não muda absolutamente nada. Por acaso o grupo Seviriano Ribeiro também nao é brasileiro? A lógica empresarial é absolutamente a mesma, sendo os propietários das redes exibidoras americanos ou brasileiros ou mexicanos. Trata-se de um negócio e eles não querem perder dineiro ( por acaso alguém quer?) e ponto final.


Mas que é chato não ter mais espaços para outros tipos de cinema, isso é. E o circuito para esse "outro" cinema é aqui muito mais pobre que o do Rio. E como acontece também em outros países, tudo que não é cinema americano é incluido no rótulo "cinema de arte". Ou seja, o cinema comercial produzido em outros cantos do globo aqui vira "cinema de arte". No Cineforo, por exemplo, tem um cartaz enorme de Avassaladoras, o que indica que esse filme já foi exibido lá. Aqui o filme ganhou como título o de Devoradoras de hombres, ou algo assim, não me lembro direito.

É curioso que os mexicanos só puderam ver o Avassaladoras no Cineforo. Será que o público frequentador da rede Cinépolis não teria gostado de vê-lo? Ou será que ele realmente sempre vai preferir os "originais" americanos como o recente Loucura de amor em Las Vegas , por exemplo, aos "similares" latino-americanos, que tem muito mais haver com ele?

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Fresa Gas


O primeiro apartamento que eu morei em Guadalajara ficava bem encravado no centro, completamente no centrão, onde todos os movimentos, ruídos e parafernálias se misturavam e explodiam. Nessa massa sonora gigante e fragmentada se destacava a musiquinha do caminhão de gás. Da minha janela eu ouvia essa musiquinha praticamente o tempo todo, mas nunca conseguia identificar o que ela dizia. Primeiramente, eu nem sabia que se tratava de um caminhão de gás. Três meses depois eu me mudei de casa e a situação piorou. Eu me mudei para uma Casa de Huéspedes mais afastada do centrão e localizada em uma rua super tranquila. Aqui, qualquer mínimo barulho é amplificado.
A janela do meu novo quarto dá para a rua. E não é que esse caminhão de gás passa todos os dias das 6 da manha às 5 da tarde bem em frente a minha janela? Conseguir ouvir melhor a musiquinha de nada me adiantou, permaneci sem consegui captar, detectar o que ela pronunciava. Quando o caminhão passava, eu fechava os olhos para poder melhorar a minha audição e nada. Então, eu começei a guardar na minha mente as palavras que a musiquinha me sugeria. O caminhão passava e eu ouvia:
Fresa, fresa, fresa gas / Fresa, fresa, fresa gas.
Ou seja, eu achava que a companhia de gás se chamava Morango Gás.
Estranho e peculiar nome para uma companhia de gás. Será que o gás que eles vendem tem cor vermelha ou aroma de morango? Só bem depois que eu descobri que o nome verdadeiro da companhia era Zeta gas e o que a musiquinha martelava de maneira insistente era Zeta, zeta, zeta gas.

Cerveja Asteca


Essa é uma das marcas de cervejas mais populares por aqui, cerveza Indio , pelo menos é a que eu mais tomo. Sempre quando peço uma michelada, peço que ela seja preparada com uma Indio. Claro, se tivesse uma cerveja como esse nome no Brasil, a representaçao do indígena seria completamente diferente. A imagem nasceria dos clichês do nosso imaginário nacional a respeito da figura do índigena, dos lugares comuns, do senso comum, da iconografia superficial que nos é ensinada desde os primeiros anos da escola, do dia do índio, etc...
Aqui também nao é muito diferente. Se aqui o índio também simboliza o genuinamente nacional, o puro, o autêntico, o que já existia no país antes da chegada dos conquistadores europeus, constatamos a sua força e o seu vigor estampados em sua atlética forma física. Ou seja, o índio é romantizado, idealizado segundos os padroes europeus. O que os escritores romanticos indigenistas brasileiros faziam no século XIX, de certa forma permancem no imaginário do Brasil. E o que os indigenistas mexicanos fizeram a partir da Revoluçao, também segue diluídos em exemplos aparentemente banais como esse. Nesse rótulo de cerveja o índio garoto propaganda me lembra mais um soldado romano do que um asteca.

Leonora Carrington, a maga


Indo no embalo do livro sobre Remedios Varo, peguei o livro dessa mesma coleção e escrito pela mesma autora, Lourdes Andrade, correspondente à vida e a obra da pintora, escritora e mística inglesa Leonora Carrington. O livro se chama Leonora Carrigton, histororia en dos tiempos.
Leonora foi um dos principais nomes do movimento surrealista londrino, foi internada em um hospício de loucos e logo depois se refugiou no México, onde atingiu novas dimensões e novas direções para a sua arte.
Foi amiga íntima de Alejandro Jodorowsky, tendo trabalhado como cenógrafa em algumas de suas peças de teatro. Criou com ele a peça Penélope. Jodo fala com carinho sobre a sua amizade com Leonora em seu livro El maestro y las magas.
Abaixo, segue algumas passagens do livro Leonora Carrigton, historia en dos tiempos:
( Leonora Carrigton) Es sometida a un agresivo tratamiento, torturada y humillada, desacreditada como ser humano capaz de razonar. No obstante, esta experiencia le abre las puertas a aspectos de su mundo interior hasta entonces inaccesibles para ella. Su conocimiento del ocultismo sirve de llave a estos inusitados territorios, vedados al común de la gente. Si al lado de Max Ernest Leonora había aprendido a pensar en el artista, en el poeta, como mago, como chamán del mundo moderno, su pasaje por la sinrazón es equiparable al trance chamánico , al éxtasis que le proporciona la visión.

El relato de su internamiento está plagado de símbolos e imágenes que más tarde estructurarán sus cuadros, como redes de significaciones ocultas. El viaje chamánico, viaje al lado oscuro del ser, es representado como un viaje nocturno. Así, surgen Retorno de la Osa Mayor (1966) y Arca de Noé (1967), entre otros ejemplos de recorridos noctámbulos, estelares.

Si por su belleza y seducción los surrealistas la consideraban como hechicera , el conocimiento que adquiere a raíz de su internamiento le confiere un nivel de percepción de la realidad más profundo, que verterá en sus pinturas.
(...)
Al encontrarse un poco mejor su familia decide trasladarla al sur de África, donde su vida podría continuar de manera apacible, lejos del escándalo y de los excesos de sus amigos surrealista. Sin embargo, Leonora, ávida siempre de libertad, tiene otros planes. Logra escabullirse de su guardiana en Lisboa y se refugia en la embajada de México. Ahí pide entrevistarse con Renato Leduc , a quien había conocido por intermedio de Picasso. Avisado aquél, acude en su auxilio y se casa con la pintora, con el fin de poder trasladarla a México.
(...)
Poco a poco se va integrando, en México, un grupo de artistas y poetas afines a la sensibilidad de Leonora. Algunos de ellos habían formado parte del grupo surrealista en París – Benjamín Péret, Remedios Varo – y otros eran refugiados de la guerra cuya forma de expresión mostraba afinidades con el surrealismo – éste es el caso de Katy y José Horna: ella fotógrafa de origen húngaro, él escultor y tallador español. Hasta un joven artista mexicano que pronto se sumará a esta singular cofradía: Gunther Gerzso, cuya trayectoria distaba de la de otros pintores de su generación. Todos ellos organizan actividades comunes, juegos, empresas artísticas colectivas, así como diversiones y fiestas. El contacto con estos poetas y artistas constituye un estímulo para Leonora, quien se involucra cada vez con mayor seriedad en la práctica pictórica y cuyas ideas e invenciones son como un elemento aglutinante de la creación tanto individual como colectiva de estos artistas.
ANDRADE, Lourdes. Leonora Carrington, historia en dos tiempos. México: Consejo nacional para la cultura y las artes, 1998.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Remedios Varo e os cabelos andantes



Pesquisando para a minha dissertação sobre a tradição surrealista na arte mexicana, me deparei com o pequeno livrinho sobre a vida da artista plástica espanhola Remedios Varo intitulado Remedios Varo, las metamorfosis , da professora e especialista em Surrealismo no México, Lourdes Andrade. O livrinho é bem sintético, mas as imagens que ele apresenta no final demonstram o grande talento da artista, como podemos ver nesse quadro acima, chamado Locomoción capilar (1960). No post abaixo, eu cito uma passagem do livro.

Remedios Varo, las metamorfosis


Las barreras de lo ¨real¨ deben haberse desdibujado en la convivencia con el poeta ( Benjamín Péret), de talante apasionado, irreverente, desorganizado, que en cuanto a sus ideales no hace concesiones. Si bien las referencias pictóricas de la posterior obra de Remedios son múltiples e importantes, el principio de su mundo poético e incongruente, humorístico y paradójicamente verosímil proviene del espíritu de Benjamín Péret. No hay poesía más sencilla, más cotidiana en su lenguaje, en sus elementos constitutivos y, al mismo tiempo, no existe un universo más desconcertante, inimaginable y mágico – comparable quizás con el de Max Ernst, en las artes plásticas – que el creado por Benjamín con las palabras de todos los días. Así, el mundo a que da lugar el pincel de Remedios, años más tarde, se ubica, muchas veces, en ámbitos que nada tienen de extraordinario, pero cuyas partes han sido estructuradas de tal forma que resultan sorprendentes. Tal es el caso de escenas como Mimetismo (1960) , Visita inesperada (1958) y Fenómeno (1962) , entre otros, en los que en medio de lo trivial surge el prodigio, lo insólito.

Estos años fecundos de intercambio entre lo lúdico y lo onírico van preparando el espíritu de Remedios para el encuentro con lo maravilloso: la concretización de su íntimo universo personal en su pintura.

Mientras tanto, debe sufrir una serie de pruebas. En 1939 enfrenta nuevamente el estado de guerra. Tras múltiples peripecias se refugia en Marsella, con Péret. De ahí pasan juntos al norte de África y poco después se embarcan para México, en cuyas costas desembarcan el 15 de diciembre de 1941.

Péret hablaba desde tiempo atrás de su deseo de conocer México. Le atraía su cultura antigua – sus mitos, sus pirámides, su magia – y el soplo revolucionario que lleva a Lázaro Cárdenas a la presidencia, lo cual permite que nuestro país se convierta en refugio de Trotsky y de los republicanos españoles.

La constante de la vida de Remedios y Benjamín es la pobreza. Pasan dificultades económicas pero, en cambio, se rodean de un puñado de amigos con quienes logran restablecer el ambiente de estímulo y fraternidad que habían conocido en París. En este grupo se encuentran Katy y José Horna, Leonora Carrigton, Gunther Gerzso, César Moro, Esteban Francés, Octavio Paz y algunos otros. Marginados del ámbito ¨oficial¨ de la cultura nacionalista posrevolucionaria, se construyen un universo aparte en el que juegan, inventan, ríen y estructuran mundos fabulosos desbordantes de imaginación y humor. La actividad colectiva asume de nuevo un plano importante, sin sufocar la voz individual.

Remedios debe, no obstante, dedicar buena parte de su tiempo a empresas ¨redituables¨, para poder subsistir con su poeta y sus gatos. Péret, entre sus reuniones con los trotskistas y sus investigaciones sobre los mitos y leyendas indígenas, gana un poco de dinero como maestro de francés en La Esmeralda, como editor de la revista lIFAL , y con artículos en periódicos y revistas. Remedios realiza trabajos publicitarios y de decoración. La vida es dura, pero ofrece momentos placenteros. Con Leonora Carrigton establece una amistad entrañable y una complicidad intelectual que las lleva a sumergirse en lecturas esotéricas e indagaciones sobre hechicería, en mercados y pueblos mexicanos. Realizan, medio en broma, medio en serio, experimentos mágicos en la cocina. Testimonio de ello es el divertido texto de Remedios, Receta para tener sueños eróticos. Aunque lejos del núcleo parisiense del surrealismo, nuestras artistas permanecen fieles a sus postulados: el sueño, la poesía, el conocimiento arcano, la magia...


ANDRADE, Lourdes. Remedios Varo, las metamorfosis. México: Consejo nacional para la cultura y las artes, 1996, pp. 23-26

Declaración del 27 de enero de 1925


Ante una falsa interpretación de nuestras intenciones que se ha difundido de manera estúpida entre el público, queremos declarar lo siguiente a toda la embrutecedora crítica literaria, dramática, filosófica, exegética e incluso teológica:

1º No tenemos nada que ver con la literatura, pero somos capaces, en caso necesario, de servirnos de ella como todo el mundo.

El SURREALISMO no es un medio de expresión nuevo o más fácil, ni tampoco una metafísica de la poesía. Es un medio de liberación total del espíritu.

Y de todo lo que se le parezca.

3º Estamos completamente decididos a hacer una Revolución .

4º Hemos decidido asociar la palabra SURREALISMO a la palabra REVOLUCION , sólo para mostrar el carácter desinteresado, independiente y hasta absolutamente desesperado de esta revolución.

5º No pretendemos cambiar para nada las costumbres de los hombres, pero sí mostrarles la fragilidad de sus pensamientos, y sobre qué inestables cimientos, sobre qué cavernas, han edificado sus tambaleantes viviendas.

6º Lanzamos esta advertencia solemne a la sociedad: Que preste atención a sus desvaríos, a casa uno de los pasos en falso de sus creencias, porque seremos implacables.

7º En cada recodo de su pensamiento, la sociedad se topará con nosotros.

8º La Rebelión es nuestra especialidad. Y estamos dispuestos a emplear, en caso necesario, cualquier medio de acción.

9º Nos dirigimos especialmente al mundo occidental:

el SURREALISMO existe.

-Pero, ¿ qué es entonces este nuevo ¨ismo¨ que se precipita ahora sobre nosotros?
- EL SURREALISMO no es una forma poética.
Es un grito del espíritu que se vuelve hacia sí mismo decidido a pulverizar desesperadamente sus trabas.

¡ Y con martillos verdaderos si fuera necesario!


Central de Investigaciones Surrealistas

15, rue de Grenelle

Louis Aragon, Antonin Artaud, Jacques Baron, Joe Bousquet, J.-A. Boiffard, André Breton, Jean Carrive, René Crevel, Robert Desnos, Paul Eluard, Max Ernest, Théodore Fraenkel, Francis Gérard, Michel Leiris, Georges Limbour, Mathias Lubeck, Georges Malkine, André Masson, Max Morise, Pierre Naville, Marcel Noll, Benjamín Péret, Raymond Quéneau, Philippe Soupault, Dedé Sunbeam, R. Tual.



ARTAUD, Antonin. Carta a los poderes. Buenos Aires: Editorial Argonauta, 2003.

Outras perguntas sobre o Brasil - Este desconhecido

Por incrível que pareça, não foram as perguntas da postagem abaixo as mais curiosas que eu ouvi a respeito do Brasil. Um dia, um arquiteto de uns 34 anos, que mora aqui na casa de huéspedes, professor universitário, com mestrado e tudo, me disse afirmando: "o Rio de Janeiro é a capital do Brasil, né?" Eu lhe respondi que não, mas que se ele tivesse me feito essa pergunta há 48 anos atrás, tudo estaria bem.

Outra vez indo de ônibus para a faculdade com o Alan, eu lhe disse que queria ir a uma tourada, porque ainda não tinha ido. Aí ele me perguntou se havia arenas de touro no Brasil. Eu falei que não porque a nossa colonização foi portuguesa e não espanhola e que a tourada é uma manifestação cultural tipicamente espanhola. Então, ele fez uma contra-argumentaçao excelente. Como a gente estava passando por uma quadra de squash, ele disse: ¨tá vendo aquela quadra ali? Eu vi na televisão que se joga squash no Brasil, então se levaram o squash para o Brasil porque não se poderia levar a tourada?

Existe lasanha no Brasil?

Quinta-feira passada, último dia de aula do semestre, toda a turma e mais quatro professores (incluindo a coordenadora do programa) foram celebrar o término de mais um ciclo de vida em uma cantina do centro histórico de Guadalajara ( aqui botecos, botequins e bares um pouco mais sofisticados são colocados em um mesmo saco pelo rótulo de ¨cantina¨). Conversa vai, conversa vem, um dos 12 alunos da turma bate a colherzinha no copo pedindo um minuto de atenção porque ele quer falar para fazer um aviso. O aviso é que ele quer convocar todos os presentes para uma lasanha a ser realizada em sua casa no próximo sábado.

Todos receberam o convite com sastifação. Eu, nem se fala. Tendo chegado no México em fevereiro desse ano, já provei de quase tudo que a culinária mexicana tem a me oferecer. Quando pus os meus pés na Cidade do México ( tive que passar primeiro por lá para resolver uma série de trâmites e documentação da bolsa, etc...) enchi a pança com tudo que me parecia novo. Comi tacos viscerais ( de lábio, de cabeza, de riñones, de lengua, de carnaza , de sesos ) comi enchiladas, gorditas, quesadillas, sopes, chilaquiles, huaraches, gringas, chiles rellenos, tamales etc... Depois de dois dias de comilança cheguei em Guadalajara e começei a minha dieta. Por tanto já estava há 4 meses sem comer massa. Mas, nao foi por causa dessa "dieta", que na verdade nunca existiu, que eu fiquei tanto tempo sem comer massas. Foi porque aqui realmente é dificil encontrar algum restaurante que trabalhe com esse tipo de refeição. Aqui em Guadalajara tem restaurantes italianos sim ( eu nunca vi, mas me juraram que tem), porém, se um restaurante não for especificamente de comida italiana, ele não serve nem miojo.

Então, foi com uma certa alegria que os meus ouvidos captaram a notícia "lasanha no sábado". E, como eu já disse, eu nao fui o único.

Chegando o dia, eu passei no caminho da casa do anfitrião em um supermercado para comprar vodka e limões. Pensei em fazer uma caipirinha para os que nunca tomaram desse mé. Cheguei, preparei os drinks e todos de imediato já ficaram embriagados. Eles disseram que foi por causa do açúcar, uma vez que não esão acostumados a tomar bebidas doces. Afirmaram que caipirinha é mais forte que tequila e quando eu lhes disse que eu costumo tomar umas três caipirinhas em uma noite, nao acreditaram.

Aí chegaram os vinhos e depois.... a lasanha. Foram postas duas travessas na mesa. Todos se serviram avidamente. Eu, pacientemente, esperei a minha vez. Quando fui me servir, a minha coordenadora me perguntou: "voce já tinha provado lasanha?" Eu respondi : "como?" E ela: ¨se come lasanha no Brasil?"

Eu, com a boca cheia, respondi com um gesto.

Nao sei se ela entendeu.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Dois na lona

Um colega do mestrado me perguntou certa vez se haviam filmes de luta livre no Brasil. Todo mundo sabe que aqui no México a luta livre é um esporte extremamente popular, uma verdadeira e onipresente paixão nacional. Na televisão existem programas de auditório cujos apresentadores são lutadores mascarados, nas bancas de jornal pipocam revistas especializadas de luta livre, nas ruas as crianças se fantasiam com as máscaras de seus heróis do ringue, há bonecos, histórias em quadrinhos e promoções de sanduiches do KFC que exploram de maneira intensa essa iconografia. Ou seja, a máscara, o ato de esconder o rosto é uma obesessão de longa tradição por aqui e na linguagem da luta livre ela assume peculiares contornos.

A conjugação máscara - luta livre pode explicar uma série de coisas, mas não explica e muito menos responde a pergunta do meu amigo. Eu lhe respondi que o único filme brasileiro que eu conheço que poderia se aproximar mais ou menos do termo "filme de luta livre" (sem com isso deixar de assumir fortes doses de forçassão de barra) seria o Dois na lona (Dir: Carlos Alberto de Souza Barros, Brasil, 1968). Se a luta livre não explodiu no cinema brasileiro da mesma forma que estourou no cinema mexicano, a televisão brasileira nas décadas de 60 e 70 sim, conheceu essa febre. E foi no rastro desse êxito televisivo que surgiu o projeto de Dois na lona.

Juntando dois astros populares da tv, um comediante: Renato Aragão e um lutador de Telecatch ítalo-argentino: Ted Boy Marino , o filme busca uma fórmula leve que utiliza humor ameno -infantil misturado com cenas de pancadaria , algo que Didi Mocó e seus tres futuros amigos explorariam eficientemente anos mais tarde. As inesquecíveis cenas de briga dos Trapalhões já aparecem aqui em seu estado embrionário e sinalizam nitidamente a diferença existente entre Dois na lona ( um filme infantil que se serve do Catch televisivo) e os filmes do Santo, o mascarado de prata, do Blue Demon, do Mil Máscaras e de outros lutadores mexicanos (que utilizam a luta livre e sua popularidade icônica para revisitar e explorar diveros gêneros cinematográficos).