quinta-feira, 24 de julho de 2008

Cavadores musicais

Em 2003, quando estive viajando pelo Chile, fiquei surpreso em saber que um grupo brasileiro do qual eu nunca tinha ouvido falar era o que mais se ouvia no país, era a absoluta sensação do momento. Tocava nas rádios sem parar, o grupo toda hora estava na televisão, aparecia em programas de auditório, em programas de entrevistas, em revistas de fofoca, já tinham virado bonequinhos e conquistado diversos públicos, sobretudo o infantil.

O grupo em questão se chamava Axé Bahia e na verdade de baiano ele não tinha nada. A banda era composta por dançarinos e dançarinas do interior de São Paulo que foram para o Chile com o objetivo de encher o bolso de bufunfa. Depois eu descobri que eu nãoera o único brasileiro que desconhecia o Axé Bahia. O grupo nunca tinha tocado no Brasil. Ele foi criado, construido e armado para o mercado chileno. Usando todo o arsenal simbólico, a poesia das letras de duplo sentido, a iconografia e as coreografias sofisticadas difundidas pelo Axé, o grupo paulista-baiano-chileno foi como um acarajé cozinhado na Patagônia. Um produto ¨nacional¨ produzido e consumido no exterior.

Trata-se de uma lógica bastante razoável: um produto que dá dinheiro em um país também pode dar em outro, com a vantagem de que nesse outro país o produto é escasso, raro e exótico. Não há concorrência... O sucesso é garantido. A garantia soy yo.

Março deste ano, Guadalajara, México. Estava eu com o Alan no Festival do dia da música. Tinham sido montados ao longo da Avenida Chapultepec vários palcos, para cada palco estavam programadas 12 atrações musicais. A gente tinha marcado com um pessoal às 10 num bar e era umas 8. Como tava cedo a gente decidiu dar um rolé e ver o que estava rolando em cada palco. A gente viu o primeiro palco, o segundo, tudo muito paradão. Chegando no terceiro, a coisa estava movimentada, porém, o público não dançava. Era uma banda de Axé.

O público assistia tudo aquilo com uma atenção tremenda. Parecia que estavam vendo uma coisa do outro mundo. Eu, por outras razões, também estava começando a achar o mesmo. O vocalista, claro, era brasileiro. O dançarino negão e a mulata também. Mas, as três outras dançarinas e os músicos eram mais mexicanos que Cantinflas. As mexicanas rebolantes eram gostosas e tinham aprendido bem a dançar na boquinha da garrafa. Deu para ver que elas fizeram um treinamento intensivo. Tudo bem que a mulata brasileira era melhor, mas as suas alunas estavam dando conta do recado. Mas, os músicos... Nunca tinha ouvido um Axé ser tão mal tocado em toda a minha vida. Parecia que os músicos estavam brigando entre si. Em um outro momento parecia um campeonato, um músico querendo chegar primeiro que o outro.

Terminado o show, a minha curiosidade estava falando alto. Fui para perto do palco e vi que os que mais atrairam admiradores foram o negão e a mulata. Havia uma fila enorme de adolescentes para tirar foto ao lado do negão e uma multidão de marmanjos pegando autógrafos da mulata. Após esse alvoroço, fui falar com o vocalista. Ele me disse que era do interior paulista, que estava morando há sete anos em Guadalajara e há 12 no México. Me disse que quando chegou no país fazia parte de uma dupla sertaneja, depois fundou um conjunto de forró, de lambada (mesmo já fora de moda) e agora está com essa banda de Axé. Fiquei sabendo que no final dos anos 80, começo dos 90 (época de ouro da lambada), ela foi proibida no México. Vai ver, ela foi liberada quando a moda acabou. Pedi a ele um cartão do grupo, ele me deu e foi embora. Quando fui ler o cartaão vi que o grupo se chamava Buzeta do Brasil (buceta com Z).

Mais um artigo de exportação.

A cavaçao nao só é universal, como também, musical.

Um comentário:

thata disse...

Não só a Cavação é Universal, como música ruim se espalha pelo mundo mais do que praga, tenho medo de ver um grupo de axé no México, hehehe!!!!!! Melhor ficarmos com os Mariachis mesmo...
Saudades