terça-feira, 4 de novembro de 2008

Día de muertos


Ontem à noite, como faço em quase todas as segundas-feiras à noite antes de dormir, fui dar uma olhada no Fantástico pela globo.com. Não foi com surpresa que eu constatei que nesse programa dominical do dia 2 de novembro, pleno dia dos mortos, não houve nenhuma materiazinha sequer, nenhuma breve menção ou uma rápida frase referente a esse "dia".

Eu me lembro que em alguma vez ao longo da minha vida, eu vi em telojornais matérias sobre o dia de finados, imagens de pessoas levando flores à tumba de seus parentes falecidos, pessoas visitando túmulos de mortos famosos etc... Me lembro de uma matéria em que um sócia do Raul Seixas estava cantando e tocando violão em cima da lápide de seu ídolo. Tudo bem que o dia dos mortos não tem no Brasil a mesma importância que tem no México. Em nossa cultura a relação com a morte é completamente diferente, muito mais ocidental, muito mais católica e por isso muito mais "respeituosa" e solene. Não foi à toa que o Glauber ao incorporar o espírito e a tradição do olhar perante à morte presente no México ao filmar o Di teve o seu filme censurado pela família do pintor. O que aqui é homenagem, celebração, festa, alegria, no Brasil é desrespeito.

E é claro, se resulta interessante visualmente filmar o día de muertos daqui, com todos os seus deslumbrantes arranjos, ornamentos e adornos combinados com flores, bisnagas e doces das mais variadas cores, as incontáveis velas iluminando o cemitério, as melodias e as oferendas; no Brasil não há a menor graça. Que graça tem registrar um bando de gente triste levando flores no cemitério? Até que o Fantástico tem um pouco de razão em não reportar o dia dos mortos, porque realmente nenhuma matéria sobre esse dia no Brasil seria capaz de apresentar alguma força plástica, visual, sensorial ou qualquer outro apelo apto a prender a atenção do espectador e convencê-lo a não mudar de canal.

Nada contra à tristeza, muito pelo contrário. Cada um expressa os seus sentimentos em relação aos seus entes queridos que se foram da maneira que bem entender. Mas que é evidente que a forma alegre e festeira é muito mais divertida para quem ainda está vivo, isso é.

E essa forma além de ser mais interessante para quem ainda está no lado de cá, também é mais cativante como imagem em si. Tente fazer um teste: digite no yotube "dia dos mortos no Brasil" e tente ver quantos vídeos vão aparecer. Depois faça o mesmo com "día de muertos" e reflita você mesmo sobre a comparação. Há no yotube alguns vídeos sobre a festa em Pátzcuaro e na ilha Janitzio, para onde eu rumei no dia 1 de novembro especialmente para passar a noite do dia 1 para o dia 2. A ilha fica em Pátzcuaro, cidade que pertence ao estado de Michoacan e é considerado o melhor lugar para se passar o dia dos mortos no México. Melhor porque mais típico, mais tradicional, mais original e mais representativo dessa celebração no país. Como esse é o meu primeiro ano por aqui e como infelizmente eu não tenho o dom de estar em mais de um lugar ao mesmo tempo (embora algumas pessoas já tenham me dito que possuo o poder da onipresença) nao pude comprovar se essa afirmaçao procede. Mas, de qualquer jeito, achei a festa sensacional.

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