sábado, 17 de janeiro de 2009

Titãs, a vida até parece uma festa

Na terça-feira passada eu, a Thata, a Nina, a Maíra e a Chati fomos à pré-estréia do documentário dos Titãs no Oi Casa Grande, no Leblon. Quando soube que essa ia ser a programação da noite fiquei contente porque desde que eu botei os pés no Brasil no dia 25 de dezembro até aquele dia, eu ainda não tinha conseguido ver nenhum filme brasileiro nos cinemas. Quando eu cheguei estavam passando o Deserto feliz, que estava em seus últimos dias de vida (o clássico uma sala, um horário), o Feliz natal e o Juventude. Ainda não vi como ficou a configuração dos filmes em cartaz a partir de ontem, mas imagino que o Feliz natal já tenha se pirulitado e que o Juventude já tenha entrado na UTI. Espero que dê pelo menos para eu ver o Juventude antes de eu voltar para o México. Mas, voltando ao filme sobre o Titãs, foi realmente com uma imensa alegria que eu fui vê-lo. Não só porque se tratava de um filme brasileiro contemporâneo (que eu não via desde o Festival de Guadalajara do ano passado). Não só porque eu iria vê-lo em uma sala de cinema. Não só porque era uma pré-estréia. E sim, principalmente, porque era um documentário sobre o Titãs.

Ou seja, um documentário sobre uma manifestação cultural levada a cabo no meu país, que eu vivi, que eu fui contemporâneo. O filme tem muito disso, para todos que tem idade para lembrar da época em que surgiu os Titãs e do auge de sua trajetória ao longo dos anos 80, é um prato cheio de lembranças e nostalgia. Quem não vai se divertir ao rever imagens de programas antológicos de uma época que já não existe mais como o Clube do Bolinha, o Viva a noite e o Perdidos na noite? Quem não vai rir com o sempre impagável Silvio Santos ao se recusar em pronunciar o nome da música Bichos escrotos? Quem não vai cair na gargalhada ao assistir 20 anos depois a iconografia tosca, brega e cafona própria à década de 80? Todos esses elementos e esses apelos podem fazer que a experiência de assistir a esse documentário seja divertida para o espectador brasileiro que vivenciou esse determinado contexto histórico, mas eles não são suficientes isoladamente. Eles precisam ser bem articulados, bem estruturados, bem orquestrados para que um simples registro amador captado em uma camêra VHS no decorrer de duas décadas possa se transformar em cinema.

Esses elementos estabelecem a nossa ligação afetiva com o filme, com a época que ele retrata, com o registro em si. Mas, até para manter o prazer provocado pela nostalgia e a permanência da sensação de diversão é necessário ritmo, cadência, harmonia, manejar o tempo. Fazer com que o conteúdo ( registros caseiros, fragmentos de programas de TV, imagens de shows) e todo o sentido que esses suportes carregam, se converta em forma. Sem dúvida o que há de melhor nesse conteúdo é o registro do grupo se interagindo com a camêra. Além de músicos, os Titãs são atores natos, notadamente o Paulo Miklos e o Arnaldo Antunes (não por acaso de longe os mais carismáticos). As brincadeiras entre eles e os "números musicais" que eles fazem diante da camêra possuem a qualidade não só de divertir e de serem realmente muito engraçadas como também de enfatizar a "mensagem" principal adotada pelo discurso do filme que é o significado da amizade e do companheirismo compartilhado pelos membros da banda. Esse é um fator que não podia deixar de ser trabalhado, se o documentário é sobre uma banda de rock que existe há 26 anos e se essa banda é formada por 8 pessoas (número que já ultrapassa o normal) é lógico que conceitos como amizade, união e criação coletiva tinham que ser costurados. E nada melhor que essas imagens de bagunça grupal para traduzi-los.

Porém, a orquestração desses conteúdos em um sistema discursivo e formal deixa muito a desejar. A idéia de reunir o registro caseiro e misturá-lo com outras fontes formando assim um albúm audioviusal dos Titãs é muito mais interessante do que simplesmente fazer um documentário biográfico convencional com entrevistas com os músicos, com críticos e amigos da banda. Os diretores optaram por fugir do modelo mais tradicional. A analogia que podemos fazer com um albúm de fotografias é bem rica, porque é justamente isso que o filme parece. O filme é um albúm audioviusal que abarca os 26 anos da história do grupo e como qualquer albúm é dividido em grupos temáticos (viagem a tal lugar, casamento, aniversário de fulano, no caso de um albúm de fotografia) cuja divisão é percebida naturalmente sem precisar de legendas ou cartelas. Na medida que você vai virando a página você percebe a mudança dos eventos que estão sendo vistos. Há um fio cronológico principal mas ele nao é o único elemento responsável pelo agrupamento das fotografias.

Se a idéia do filme-albúm é interessante, ela se perde ao longo de sua composição. Fazer com que a experiência de folhear um albúm seja envolvente ao longo de duas horas nao é uma tarefa tão fácil. Além do envolvimento afetivo com os protagonistas do albúm que está sendo folheado (ninguém vê um albúm de uma familia que não conhece) é preciso que as fotografias nos prenda de alguma forma, se não a experiência se torna cansativa e repetitiva. As fotos começam a se parecer iguais. E em grande parte do filme é isso que acontece. O albúm audiovisual no aspecto geral se tranforma em albúm-video clip em particular e o que vemos são sequências videocliperas uma atrás da outra. Não temos pausa, nao temos respiro. Não temos uma distribuição mais harmônica do material.

Nenhum comentário: