quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Cinemas nacionais contra Hollywood

O título desse post é uma paródia ao título de um livro com o mesmo nome escrito por um crítico francês "radical", de "extrema esquerda", super "politizado" chamado Guy nao sei das quantas. Agora me fugiu o sobrenome do cara, daqui a pouco eu lembro. Eu sei que não se trata do Guy Malpassado, famoso escritor, nem do Guy Nasbordas, famoso cineasta experimental e teórico, autor de A sociedade do espétaculo e líder da Intentona Situacionista.

O tal crítico se chama Guy nao sei das quantas, é o que importa no momento. O livro dele é super datado, ultrapassado e a sua leitura nos dias de hoje só vale a pena pelo seu caráter documental, de registro de uma época e pela curiosidade de se travar contato com um pensamento e um discurso que já ficou para trás. Mas, esse livro me veio à mente no dia de hoje pela dificuldade que eu estou enfrentando em conseguir ver os filmes mexicanos antes que eles saiam de cartaz. A mesma dificultade que eu tinha no Brasil em conseguir acompanhar todos os filmes brasileiros que entravam em cartaz, eu estou tendo aqui em relação aos mexicanos.

Se no Brasil, os filmes brasileiros são jogados no mercado de maneira extremamente negligente, aqui acontece o mesmo. Essa é a trajetória tipíca dos filmes nacionais daqui: um filme mexicano entra em cartaz, na semana seguinte ele já está ocupando apenas uma sala e em um único horário, na outra semana ele já saiu de cartaz. Foi assim que eu perdi Las vidas de Lelia (Dir: Antonio Chuvarrías, Espanha, México, 2006). Quando eu vi o filme já estava em uma única sala, em um único horário e em um cinema longe pra caralho. Assim não dá, aí já é muito sacrifício para um cinéfilo estrangeiro curioso e interessado em acompanhar a produção mexicana contemporânea. Com La sangre iluminada (Dir: Iván Ávila Dueñas,México,2007) e com Mejor que Gabriela no se muera (Dir: Sergio Umansky, México,2007) foi ainda pior. Tinha me programado para ver esses filmes mas, por estar enrolado com os trabalhos do mestrado e outros projetos, tive que ficar uns dois finais de semana tracanfiado em casa e quando finalmente estive livre para vê-los: já era, eles já tinham se pirulitado das telas da cidade.

Se essa dificuldade rola comigo, imagine com o público majoritário, com o público comum. A maioria nem sabe da existência desses filmes. Não há divulgaçao, não há nenhum incentivo para se ver esses filmes. Ou seja, os filmes mexicanos nao dialogam com a sociedade mexicana, nao provocam discussões, nao geram debates. Exatamente o mesmo, em gênero, número e grau, ocorre com o cinema brasileiro. Não se sabe para quem são feitos os filmes. Os filmes são autistas, falam sozinhos, vivem isolados em seu próprio mundo. Não possuem contato com o público, a crítica os ignora, os pensadores de outras aréas estão pensando e escrevendo sobre outros assuntos, etc...

Fazer um filme de gênero, com "linguagem acessível" ou um filme "de arte", "autoral" nas cinematografias periféricas dá no mesmo, não faz diferença nenhuma. Os dois "tipos" de filmes são colocados no mercado na mesma forma. O filme mais comercial ou o "similar nacional" do cinema Hollywoodiano não tem a menor chance. Não adianta ter um orçamento de milhões, apresentar todos os atores da novela da moda e se filiar a um gênero codificado. Ele não terá a possibilidade ou a oportunidade de ficar semanas em cartaz em todos os horários, para assim estar mais disponível ao público. É curioso o fato de que exibidores sempre esperam (isso é o que parece) que qualquer filme nacional, seja no Brasil, na Argentina ou no México lotem na primera semana todas as salas. E como isso nunca acontece, na semana seguinte lá estão eles em apenas um horário. Não é possível que algum filme sem um mínimo de publicidade lote na primeira semana. Agora para os filmes americanos, os pinchi exibidores não tem essa impaciência toda não. Qualquer filme americano super aguardado que na primeira semana é um tremendo fracasso, uma semana depois não estará no purgatório da única sala - único horário. Isso nunca acontece. E olha que eu já pude constatar tanto no Brasil quanto aqui essa situação.

Hoje fui ver Todos los días son tuyos (Dir. José Luis Gutiérrez Arias, México, 2007) que só estava com uma sessão às 4 horas da tarde e Mezcal (Dir: Ignacio Ortiz, México, 2004) que só estava com uma sessão às 7 de noite. O primeiro não esconde em nenhum momento o seu desejo de travar contato com o grande público. Super calcado no gênero policial, recheado com todas as suas iconografias, símbolos e clichês, com roteiro milimetricamente pensado, cheio de viradas, climax e respiros nos momentos certos, contava com apenas três pessoas na sala ( eu incluido). O segundo, que não por acaso é de 2004 e só entrou em cartaz nesse ano, "exige" mais do espectador. Trata-se de um filme, se é para catalogar, mais "de arte", com uma estética e narrativa distanciada do cinemão. Na sala tinham uns 40 espectadores.

Pode-se argumentar que o segundo estava em um horário mais acessível que o primeiro. Afinal, muita gente ainda estuda ou trabalha às 4 da tarde e às 7 da noite não. Tudo bem, mas eu acho que não é só isso não. O fato é que os filmes nacionais, sem exceção, estao no mesmo limbo.
E é preciso tirá-los de lá.

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